Suspeitas em contratos de construtora ligada a Marcelo Castro

Nos últimos anos, o Estado do Piauí realizou três licitações para a manutenção e conservação de rodovias estaduais no Território de Desenvolvimento dos Carnaubais (TD-03). Esses contratos, que totalizam R$ 257.406.515,84, apresentam características surpreendentemente semelhantes, tanto nas áreas atendidas quanto nos serviços contratados. Em resumo, o Estado está pagando para realizar a mesma obra em três licitações distintas.

A semelhança entre os contratos gerou desconfianca sobre a regularidade dos processos licitatórios.

Acesse a licitação na íntegra

Semelhanças nos contratos

As licitações de 2018, 2022 e 2023 têm como foco a manutenção de rodovias do TD-03, incluindo estradas como PI-113, PI-114, PI-115, PI-221, PI-320, PI-322, PI-323 e PI-331. Apesar de algumas pequenas variações nas medidas de extensão e conexão, os trechos contemplados são amplamente coincidentes nos três contratos.

As semelhanças são tão evidentes que, entre o 1º e o 2º contratos, há 95% de sobreposição, com apenas pequenas variações em trechos e distâncias, mas com objetivos quase idênticos. Entre o 1º e o 3º contratos, essa porcentagem cai para 90%. O 3º contrato destaca maior ênfase em segurança rodoviária e manutenção permanente, mas mantém a mesma essência. Já entre o 2º e o 3º contratos, a semelhança é de 92%, com diferenças ligadas à inclusão de rodovias adicionais, como a PI-115/Pimenteiras, e ao foco em segurança.

O que causa estranhamento é o fato de haver três contratos para realizar a mesma obra em anos consecutivos, e pior, sendo executados pela mesma empresa de construção. De fato, uma única empresa venceu todas as licitações.

Repetição dos vencedores

Os três contratos foram conquistados pela Construtora Icaraí, de propriedade de Mathias Castro, sobrinho do senador Marcelo Castro. No contrato mais recente, de 2023, a empresa atuou em consórcio com a Construtora Ótima, que pertence ao pai de Mathias, Humberto Costa e Castro.

Em todos os processos licitatórios, Mathias competiu com empresas recorrentes e, curiosamente, foi o vencedor em todas as ocasiões. No 1º contrato, a Soma Engenharia, empresa do sogro do governador, foi derrotada por ele. No 2º contrato, a vitória se repetiu frente à Construtora Jurema, ligada ao tio João Costa e Castro. E no 3º contrato, o padrão se reiterou, mas desta vez em consórcio com a nova empresa de seu pai.

O montante de R$ 257 milhões, oriundos das três licitações, foi direcionado a empresas da mesma família, levantando questionamentos sobre a real competitividade do processo.

Conexões políticas e familiares

Além de ser sobrinho do senador Marcelo Castro, Mathias é descrito como seu “sobrinho preferido”, conhecido por intermediar negócios entre o setor público e privado.

Esse vínculo próximo reacendeu polêmicas, como as que envolveram obras de asfaltamento em Teresina no final da gestão de Dr. Pessoa.

Outro ponto que chama a atenção, embora considerado irrelevante por aliados, é que Mathias participou de um jantar promovido pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em 2022, cujos ingressos custavam R$ 1.000,00. O evento contribuiu para o financiamento da campanha de Rafael Fonteles, atual governador do Piauí e aliado político de Marcelo Castro.

A repetição de licitações com objetos tão semelhantes e a constante presença de vencedores ligados à mesma família levantam dúvidas sobre a transparência dos processos no Piauí.

Mais do que uma questão técnica, esses procedimentos sugerem um padrão de favorecimento a familiares, infringindo o princípio de concorrência justa.

Seria uma coincidência ou uma conveniência?

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Fonte: Portal AZ