PT tem que defender mais o governo e trazer até a centro-direita, diz governador do Piauí e presidente do Consórcio Nordeste
Um raro exemplo de liderança jovem no PT, o governador do Piauí, Rafael Fonteles, de 39 anos, defende que o partido se concentre mais na defesa do governo Lula. Com formação em matemática, ele apoia a agenda do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a bandeira da responsabilidade fiscal.
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Como novo presidente do Consórcio Nordeste, Fonteles acredita que a queda na popularidade de Lula em seu principal reduto é atribuída à inflação dos alimentos. Para a reforma ministerial e as eleições de 2026, ele estabelece como prioridade a composição com o centro, incluindo a centro-direita.
O que você acredita ter causado a perda de aprovação de Lula no Nordeste?
No Piauí, a aprovação de Lula permanece em 65%, embora já tenha superado os 70%. Eu acredito que a queda se deve principalmente à inflação dos alimentos, que é o fator mais significativo, somado à comunicação sobre as entregas.
O que poderia ser feito para reverter essa situação dos preços?
A solução é aumentar a produção tanto da agricultura familiar quanto do agronegócio. As expectativas são mais positivas para este ano, e a redução do dólar também é crucial.
A redução do dólar depende de sinais de responsabilidade fiscal. Isso está em falta?
Sem dúvida. Eu defendo que a equipe econômica deve ser cada vez mais fortalecida. Uma meta importante é obter grau de investimento, o que proporcionaria acesso a crédito mais longo e barato, além de colocar o país no radar de diversos investidores internacionais. Eu apoio totalmente o ministro Haddad.
O PT tem dificuldades em compreender isso, não?
O PT é um partido bastante grande, com diferentes correntes de pensamento. No entanto, eu estou alinhado com a defesa da política econômica do ministro Haddad.
Como a crise do Pix impactou o Nordeste?
A crise foi severa, mas hoje isso pesa menos do que a inflação dos alimentos. Embora a população estivesse preocupada com a possibilidade de taxação do Pix, essa realidade não se concretizou. No entanto, a comunicação poderia ter sido mais preventiva, esclarecendo que não haveria taxação. Atualmente, o tempo de comunicação do governo é crucial.
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Lula não tem celular. Ele está preparado para entender os novos tempos?
É evidente que não estar conectado nas redes sociais dificulta a percepção do tempo. No entanto, o governo conta com toda uma equipe para isso. É um trabalho constante, quase a cada hora. Dada a polarização do país, estamos enfrentando uma verdadeira guerra de comunicação.
Está faltando uma marca ao Lula 3?
A marca já é clara no slogan “União e reconstrução”. Lula se elegeu prometendo reconstruir o Brasil e retomar programas, o que está sendo cumprido. Contudo, é certo que as pessoas desejam mais. É possível delinear um caminho mais claro para a visão de futuro do Lula 3, incluindo uma projeção para o Lula 4.
Quem você apoiará na eleição interna do PT?
O que defendo é que o PT deve defender o governo com mais firmeza. Estamos enfrentando uma batalha difícil, e as eleições de 2026 serão novamente polarizadas.
Essas ideias parecem contrastar com momentos recentes, quando a presidente Gleisi Hoffmann incentivou confrontos com a Fazenda.
Houve um período de conflitos, mas atualmente vejo uma defesa. No entanto, acredito que essa defesa precisa ser mais aprofundada. O partido deve respaldar o governo, mesmo que alguns militantes não concordem totalmente com determinadas políticas. Se abrirmos espaço para amplas críticas, estaremos fragilizando o projeto de reeleição.
Sabemos que Lula apoia Edinho Silva.
Se Lula estiver dando apoio, já conta com o meu voto.
Qual deve ser a prioridade na reforma ministerial?
A prioridade é buscar uma maior governabilidade no Congresso. O que puder ser feito para melhorar essas relações e garantir uma base mais sólida é essencial.
Quem, na sua opinião, será o adversário de Lula em 2026?
Provavelmente alguém da extrema direita, como o ex-presidente (Jair Bolsonaro) ou alguém próximo a ele.
Isso não envolvem governadores que estão sendo cogitados?
Acho que não. Acredito que um candidato da extrema direita emergirá. Independentemente do que ocorrer na Justiça com Bolsonaro, ele permanecerá como um protagonista nas eleições. Portanto, a frente ampla será crucial, buscando um caminho em direção ao centro e estabelecendo diálogo até mesmo com a centro-direita. Para continuarmos a representar a maioria da população, precisamos nos aproximar do centro e da centro-direita.
E se Lula decidir não concorrer?
Não considero outra possibilidade. Ele está firme e saudável. Embora seja natural que ele reflita sobre não se candidatar, quem gosta de antecipar eleições é a oposição. Aqueles que estão no governo desejam governar, pois sabem que as eleições dependem de suas entregas.
O partido falhou na renovação de quadros? Não há clareza sobre quem seria o plano B a Lula.
Para 2030, teremos um plano. Ninguém apostará em outro nome quando temos o melhor. Neste momento, nosso foco total é a reeleição de Lula, e, após isso, ele terá a oportunidade de apresentar novas lideranças ao Brasil. Vários ministros já são reconhecidos como figuras nacionais, como o ministro Fernando Haddad, por exemplo.
A segurança pública tem se mostrado uma preocupação crescente. Falta esforço federal?
A responsabilidade pela segurança pública é maior dos governos estaduais, pois são eles que controlam as polícias. Na minha visão, o governo federal não tem a responsabilidade principal, mas pode e deve contribuir. Por isso, defendo a constitucionalização do Sistema Único de Segurança Pública e do Fundo Nacional de Segurança Pública para garantir mais recursos e alcançar resultados semelhantes aos que ocorreram na Educação.
A comunidade evangélica é um eleitorado perdido para o PT ou há como reverter essa situação?
No Piauí, temos uma relação excelente com a comunidade evangélica. Sou católico e venho de uma família muito ligada à religião. Nossos valores são muito próximos dos da comunidade evangélica. Defendemos a família e os ensinamentos de Cristo, e acredito que não há problema em alinhar fé e política.