Projeto promove dignidade social através do futebol para crianças no Boaçu
Há 18 anos, um projeto social dedicado a crianças apaixonadas pelo futebol tem sido responsável por despertar sonhos e talentos na Comunidade da 40, em Boaçu, São Gonçalo. Intitulado “Mais que Vencedores” e fundado pelo ex-jogador Marcelo Mendonça, o projeto oferece aulas gratuitas de futebol para mais de 80 crianças semanalmente. Embora o foco esteja no esporte, o objetivo dos encontros vai além da formação de atletas: “Queremos ensinar os alunos a voltarem a sonhar”, enfatiza o fundador.
Essa missão motivou “Marcelão”, como é carinhosamente conhecido na comunidade, a iniciar o projeto nos anos 2000, então com apenas dez alunos. Desde então, muita coisa mudou — tanto na quantidade de crianças atendidas quanto nas condições da quadra, agora reformada e com novo gramado sintético. Contudo, a essência social do projeto permanece intacta.
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“Queremos ensinar os alunos a voltarem a sonhar”, explica Marcelão
“A intenção sempre foi resgatar essas crianças de realidades desfavoráveis e inspirá-las a sonhar. Muitas dessas crianças, se você perguntar, já não têm mais sonhos. Seja o desejo de ser jogador de futebol, médico ou bombeiro. No meu tempo, sonhávamos. Hoje, o cenário é mais desafiador e as crianças carecem de esperança”, reflete Marcelão.
A inspiração para essa iniciativa provém da própria história do treinador. Originário da comunidade da Coruja, em São Gonçalo, ele foi jogador profissional e após experiências no futebol europeu, decidiu voltar ao Brasil para motivar outras pessoas. “Eu fui atleta, me formei treinador de futebol pela Ferj e vim de uma comunidade. Deus me deu a missão de incentivar jovens a sonhar”, expressa.
Desde os primórdios, as atividades ocorreram no Campo Dona Lourdes, nomeado em homenagem a uma antiga moradora. Cátia X, de 62 anos, recorda que o projeto deu nova vida ao tradicional campinho do bairro. “Meu irmão, falecido há anos, cuidou do campo por 30 anos. Sempre jogaram futebol aqui, mas com o projeto do Marcelo, virou uma referência”, conta Cátia, avó de um mini-atleta da iniciativa.
“É um projeto incrível que transforma a vida das crianças. Vejo isso pelo meu neto, o Pedro, de 10 anos. Ele tinha dificuldade em fazer amigos e interagir, o que impactava seu desenvolvimento. Com o projeto, agora ele tem um grupo de amigos e está muito feliz, sempre animado para os treinos”, relata a avó.
“É um projeto muito bacana e que ajuda bastante as crianças”, destaca dona Cátia
O fortalecimento de laços sociais e o respeito mútuo são pilares do projeto. Cada atleta que chega para o treino cumprimenta a todos com um sorriso e educação, seja um colega, professor, ou a equipe de reportagem, como aconteceu durante nossa visita. Para Marcelo, esses vínculos construídos pelo esporte e os valores de respeito ajudam a combater alguns dos problemas enfrentados pela comunidade.
“Infelizmente, já perdi alunos para o tráfico e o vício. Essa realidade é desesperadora nas comunidades do Rio. Eu assumi a missão de trabalhar para evitar que isso aconteça, buscando sempre educar e manter os jovens ocupados”, ressalta Marcelo.
Para o fundador, esses esforços têm mostrado resultados, não só nos desempenhos esportivos, mas também nos relatos emocionantes de responsáveis e no reencontro com ex-alunos que, mesmo fora do esporte, estão trilhando caminhos de sucesso. Recentemente, dois ex-alunos, Lucas Kennedy, nas categorias de base do Botafogo, e João Marcelo, atuando pela base do Internacional, são fonte de orgulho para o treinador.
“A intenção sempre foi resgatar essas crianças de realidades difíceis e trazer sonhos”, explica fundador do projeto
Recentemente, vários alunos também deram seus primeiros passos rumo ao futebol profissional. Em uma peneira do Botafogo, dez alunos foram selecionados e estão sendo convocados gradualmente. Yara Katielly, 33 anos e mãe do pequeno atleta Caio Leandro, de 11, expressa seu orgulho pelo sucesso do filho.
“Ele sempre mostrou talento, já ganhou prêmios de dança na região. Mas, quando começou no projeto, se destacou no futebol. Como mãe, é gratificante vê-lo alcançando novas oportunidades, e meu filho mais novo também começou a participar do projeto, seguindo os mesmos passos”, conclui a mãe.
Mãe de aluno aprovado em peneira celebra sucesso do pequeno atleta
