Parça de atacante do Flamengo deixou idolatria no Azerbaijão para levar ‘vida dupla’ no Brasil
Resumo
Richard Almeida, ex-jogador da seleção do Azerbaijão, retornou ao Brasil após 15 anos. Agora, ele joga pelo Primavera e atua como olheiro para o Qarabag, mantendo conexões com o futebol azeri e cultivando sua amizade com Juninho, do Flamengo.
Aos 36 anos, Richard Almeida viveu experiências únicas no mundo do futebol. Formado pelo Santo André, o meio-campista construiu uma carreira sólida e se tornou um ídolo no Azerbaijão, onde se naturalizou e defendeu a seleção local.
Ao longo de sua carreira, Richard destacou-se no Qarabag, participando de momentos marcantes como a Liga dos Campeões da Europa, competindo no ‘Grupo da Morte’ com Roma, Chelsea e Atlético de Madrid. Ele também teve um papel crucial em campanhas memoráveis na Liga Europa.
Em uma partida inesquecível, Richard marcou um gol contra o Tottenham na casa do rival, em 2015. Embora o resultado tenha sido uma derrota por 3 a 1, ele se lembra com orgulho dos grandes palcos que teve a oportunidade de disputar.
“Esses jogos foram marcantes na minha vida. Para mim, cada partida, independente da grandeza do time, é uma lembrança preciosa. Antes de competir em grupos [de competições europeias], enfrentamos diversas etapas”, compartilhou em entrevista ao Terra.
Após 15 anos no exterior, Richard retorna ao Brasil para defender a camisa do Primavera, um time recém-promovido à elite do futebol paulista. Contudo, ele não esquece seu carinho pelo Azerbaijão, mantendo laços profissionais e emocionais com a nação que o acolheu, se considerando até metade azeri.
“Aqui no Brasil, estou observando jogadores para o Qarabag. Isso é relevante, quero ajudá-los a crescer. Eles me ofereceram a chance de analisar talentos que se encaixam no perfil deles. Se gostarem, ajudo nas conversas sobre empresários e clubes”, explica sobre sua nova função.
Embora não revele nomes, Richard já fez recomendações aos dirigentes do Qarabag, um clube que já teve outros brasileiros, incluindo Juninho, ex-companheiro e grande amigo.
Richard vê em Juninho um exemplo de como o futebol brasileiro também pode olhar para o Azerbaijão. “Antes de ele ir para o Flamengo, o Sevilla estava interessado. O diretor levou um olheiro para vê-lo jogar no Azerbaijão, e após o jogo, contataram-no para negociar”, relembra.
Apesar da distância, Richard e Juninho se falam frequentemente: “Ele adora o Flamengo. Ele me chama de Cota e sempre comenta como tudo é bom por lá.”
Richard também guarda um carinho especial por seu treinador Gurban Gurbanov, a quem considera uma figura paterna no futebol. Ele foi fundamental para a naturalização do meio-campista.
O apoio e a amizade de Gurbanov e outros contribuintes ajudaram Richard, natural de Grajaú, em São Paulo, a aprender lições valiosas além do futebol, construindo uma vida a 12.251 km de casa.
“O Azerbaijão me ajudou de muitas maneiras. Não apenas no futebol, mas a ser um homem melhor. As pessoas lá são muito humanas, respeitam e ajudam o próximo, independentemente de serem estrangeiros. Essa lição é valiosa e, embora a aprendi em casa com meus pais, a convivência lá foi incrível”, destaca.
Apesar de se considerar metade brasileiro e metade azeri, Richard passou por dificuldades de adaptação no início. O treinador usava desenhos na lousa para passar as instruções, dificultando as comunicações verbais.
Para superar essa barreira linguística, ele aprendeu inglês e buscou entender o russo, o idioma mais falado na região. Contudo, ainda enfrenta desafios na formação de algumas frases e acabou contratando um tradutor, com quem desenvolveu uma forte amizade.
Familiarizado com a cultura local, Richard estreou pela Seleção do Azerbaijão em 2017. Até sua última convocação em 2023, ele marcou três gols em 31 partidas, competindo em amistosos, Liga das Nações, eliminatórias para a Eurocopa e Copa do Mundo.
Retorno ao Brasil após 15 anos
Em fevereiro deste ano, Richard deixou o Qarabag, onde anotou 64 gols em 376 jogos, para se juntar ao Primavera. Embora tenha recebido uma proposta de renovação, a perda de espaço no time titular e o desejo de retornar ao futebol brasileiro foram fatores decisivos para sua nova escolha.
Antes de fechar com o time de Indaiatuba, Richard teve conversas com Atlético-GO e Botafogo-SP, mas sem concretizações. A escolha pelo Primavera aconteceu através da influência de Júnior Caiçara, amigo de longa data.
Diferentemente das experiências anteriores, Richard encontrou nos primeiros jogos da Série A2 do Paulistão uma competição que, além de técnica e tática, exige muito do aspecto físico do jogador.
Neste retorno ao futebol brasileiro, Richard mantém sua estrela, já tendo marcado um gol crucial na história do Primavera, abrindo o placar na semifinal contra o Taubaté. O agregado final foi 4 a 1, garantindo o acesso inédito à elite do estadual.
Neste estágio da carreira, Richard acredita que ainda pode oferecer um futebol de alto nível, decidindo pela aposentadoria apenas quando não conseguir mais contribuir ao time.
O futuro após a aposentadoria ainda é incerto, mas ele não descarta a possibilidade de retornar ao Azerbaijão para atuar no futebol onde fez história.