MP pede soltura de suspeita de matar irmãos envenenados no Piauí após laudo mostrar que cajus não tinham ‘chumbinho’


O resultado da perícia em cajus que teriam sido comidos por duas crianças antes de morrer em agosto, em Parnaíba, no Piauí, não apontaram a presença de terbufós — substância conhecida como chumbinho. Assim, Lucélia Maria Gonçalves, vizinha de Ulisses Gabriel, de 8 anos, e João Miguel, de 7, presa por suspeita de envenenar os meninos, pode ser inocente. Ela sempre negou envolvimento no caso. A informação foi divulgada neste domingo (13) pelo Fantástico.

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Os meninos são da mesma família de outras quatro pessoas que morreram em Parnaíba, no dia 1º de janeiro, após comerem um baião de dois com chumbinho. Como a perícia não encontrou veneno nos cajus que supostamente teriam matado Ulisses Gabriel e João Miguel, uma nova investigação foi aberta para descobrir se Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, padastro da mãe das crianças, está envolvido nas mortes. Ele foi preso na última quarta-feira por suspeita de ter “batizado” o baião de dois com o pesticida.

O laudo que pode inocentar Lucélia saiu um dia depois que Francisco foi preso como principal suspeito do envenenamento. A reviravolta fez com que o Ministério Público pedisse a revogação da prisão da vizinha, que sempre negou o crime e chegou a ter a casa incendiada.

— Ainda não há um elemento que o coloque diretamente na cena do crime, mas já há informação de que aquelas crianças teriam ingerido outro alimento que não o caju. Ou seja, há um fato novo e, havendo um fato novo, é preciso que se analise toda essa circunstância — disse Silas Lopes, promotor do caso.

Francisca Maria, enteada de Francisco e mãe dos irmãos mortos há 5 meses, e mais dois filhos dela estão entre os quatro mortos deste novo crime. A outra vítima fatal é Manoel, também enteado dele.

A polícia investiga o caso como homicídio e revelou que o veneno foi adicionado ao alimento no dia seguinte ao preparo, no dia 1º de janeiro. A família consumiu o baião de dois na noite de réveillon sem apresentar sintomas, que surgiram apenas após o almoço do dia seguinte. A inserção do veneno ocorreu depois do preparo inicial, o que explica a diferença no tempo para os efeitos terem sido manifestados.

Perícia aponta que substância estava em arroz — Foto: Reprodução TV Globo
Perícia aponta que substância estava em arroz — Foto: Reprodução TV Globo

A Polícia Civil agora apura de que forma o veneno foi parar na refeição, considerando que sua presença no prato não poderia ser acidental.

Crianças entre vítimas fatais

O envenenamento matou Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, Francisca Maria da Silva, de 32 anos, ambos enteados do suspeito, além de duas crianças, filhos de Francisca: Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses, e Lauane da Silva, de 3 anos. Uma menina de 4 anos, também filha de Francisca, permanece internada em estado grave no Hospital de Urgência de Teresina (HUT).

Outras quatro pessoas, incluindo Francisco, foram hospitalizadas, mas receberam alta.

Diferentes versões em depoimentos

O delegado Abimael Silva revelou que Francisco apresentou mais de três versões diferentes sobre os acontecimentos do réveillon.

Em um primeiro depoimento, Francisco afirmou que não havia se aproximado da panela com o alimento, mas posteriormente, declarou ter tocado. Em seguida, disse que não havia orientado ninguém a mexer no baião de dois. Para o delegado, as afirmações contrastam com os outros depoimentos dos envolvidos.

Para a polícia civil, a motivação do crime está ligada ao relacionamento conturbado do suspeito com a enteada morta. Em um depoimento de pouco com mais de 2 horas e 40 minutos, Francisco declarou que nutria sentimentos de ódio e desprezo por Francisca.

— Ele se referia a ela como ‘uma criatura com mente tola, matuta, morta de preguiça, não serve para nada’. Também manifestava nojo e raiva dela, além de afirmar que era inútil e passava os dias escutando músicas de apologia e músicas de mala — explicou o delegado Abimael.

Francisco desejava que Francisca saísse de casa e dizia que ela não procurava homem que trabalhava, só “vagabundo”.

Segundo a investigação, o suspeito mantinha distanciamento dos dois enteados, com quem não falava. Ele chegou a descrever os filhos de Francisca como “primatas” e “pessoas não higiênicas”. O padrão de comportamento foi levado em conta para pedir a prisão de Francisco.

— Ele é uma pessoa com uma personalidade muito complexa, fala de forma espontânea, mas demonstra claramente sua aversão pela convivência com Francisca e seus filhos — afirmou o delegado.

Durante buscas na casa foram apreendidos aparelhos celulares, documentos e um baú que o suspeito mantinha trancado ao lado do fogão.

— Esse baú, fechado com cadeado, ficava em um local inacessível a qualquer outra pessoa na residência. É o único lugar da casa que poderia esconder algo sem que os outros moradores soubessem — disse o delegado.

Diante dos indícios, a polícia solicitou a prisão temporária de Francisco por 30 dias. O inquérito tem prazo de um mês para ser concluído.

— Levando em consideração que ele era o único com motivação plausível para cometer um crime tão raivoso e torpe, aliado às constantes contradições nos depoimentos, decidimos pela prisão temporária — explicou o delegado.

A Polícia Civil destacou que o inquérito continua em andamento e que outras possibilidades estão sendo analisadas. Foi reforçado que ainda há perícias pendentes e dados de celulares apreendidos que precisam ser examinados.



Fonte Original da Matéria

Mariana Beltrão

Sou redatora, revisora e tradutora de textos, formada em Letras e em Filosofia, estou sempre em busca de conhecimentos. Atualmente escrevo para o portal Folha de Parnaíba, sempre buscando as últimas notícias para os leitores.

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