Grupo Lundu de Lezeira é reconhecido Patrimônio Vivo do Piauí em celebração da tradição oral e da caatinga


O grupo Lundu de Lezeira do Quilombo Custaneira acaba de ser reconhecido Patrimônio Vivo do Piauí pelo governo daquele estado nordestino. A lezeira, diga-se, é uma dança de roda de adultos de origem afro-indígena praticada desde o século XIX no sertão do Piauí por lavradores em comunidades rurais tradicionais do Sudeste do estado. Esta expressão cultural, bastante comum na Sexta-Feira Santa, dispõe de grupos como o Custaneira, ativos em cidades a 300km de Teresina, como Floresta do Piauí, Itainópolis e Picos.

As cantigas da lezeira remetem ao trabalho da roça, mas também espelham a forma encontrada pelo povo para resistir à dura realidade da caatinga piauiense: o sorriso, fazendo piada das próprias adversidades, a fim de amenizar o sofrimento. Outra característica é que se trata também de uma espécie de congraçamento espiritual dessas comunidades, onde as pessoas fortalecem seus vínculos e seus laços afetivos.

O Registro de Patrimônio Vivo do Piauí (RPV-PI) é uma lei de 2021 que oferece reconhecimento a mestras, mestres e grupos culturais pautados na tradição oral. Sete cantadores de Lezeira já são reconhecidos pelo governo estadual piauiense com este título.

O grupo Lundu de Lezeira é o primeiro a ser laureado coletivamente com esta distinção. A lei prevê bolsa financeira mensal e vitalícia, incentivando a perpetuação desses saberes.

Responsável pelo repasse dos saberes cantados, Dona Rita é a matriarca de Custaneira e ensinou mestre Naldim, atual líder do grupo. Aos 82 anos, a cantadeira está muito emocionada com essa conquista.

— É um dia abençoado, choveu aqui para molhar minha plantação e recebi essa notícia maravilhosa. Tô feliz, feliz, feliz! Ô, felicidade, pensa? — diz ela.

Filho de Dona Rita, Mestre Naldim, de 49 anos, está radiante com o reconhecimento e, com muita consciência, relembrou um momento importante para a sua comunidade:

— Quando saí da casa de taipa e vim morar nessa de alvenaria, a bença da casa foi dada por uma roda de lezeira com Zé de Cecília como cantador. Foi a derradeira vez que ele brincou, em 2008, meses depois ele se encantou. Essa vitória não é só do grupo de hoje, é de todos que lutaram pela lezeira, como o grande Zé de Cecíla.

Fora a Lei do Patrimônio Vivo do Piauí, neste ano um pedido foi aberto junto ao Conselho Estadual de Cultura (PI) para que a lezeira se torne Patrimônio Cultural do Piauí.

Para ouvir nas plataformas

Já no âmbito nacional, desde 2021 a lezeira está em processo junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para se tornar Patrimônio Cultural Brasileiro.

Quem quiser conhecer melhor esta manifestação pode escutar a série discográfica “Lezeira do Sertão do Piauí”, composta por seis álbuns fonográficos disponíveis nas plataformas digitais e gravados com diferentes grupos.



Fonte Original da Matéria

Mariana Beltrão

Sou redatora, revisora e tradutora de textos, formada em Letras e em Filosofia, estou sempre em busca de conhecimentos. Atualmente escrevo para o portal Folha de Parnaíba, sempre buscando as últimas notícias para os leitores.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

x  Powerful Protection for WordPress, from Shield Security
Este Site é Protegido Por
Shield Security