Distante do sucesso do PSG, futebol francês é assombrado por crise e vê riscos de novas quedas e falências

Em julho, o tradicional Bordeaux foi rebaixado à quarta divisão do futebol francês devido a problemas financeiros, surpreendendo todo o mundo do futebol. O que parecia um infortúnio isolado, na verdade, revelou-se apenas a ponta de um iceberg. Os riscos de novas quedas e falências ameaçam a Ligue 1, em meio a uma crise que contrasta com a fase próspera do Paris Saint-Germain.

Financiado pelo fundo soberano do Catar, o PSG se reinventou esportivamente após as saídas de Mbappé, Neymar e Messi, conquistando o título nacional de forma invicta, com seis rodadas de antecedência, e avançando para as semifinais da Champions. Enquanto isso, o Lyon tenta urgentemente provar que pode gerar 100 milhões de euros até o fim da temporada, para evitar punições da DNCG (Direção Nacional de Controle e Gestão, órgão regulador da liga francesa).

O clube dirigido por John Textor não está sozinho nas dificuldades financeiras. Em janeiro, a diretoria do Angers atrasou 60% dos salários. No mês seguinte, o proprietário do Montpellier, Laurent Nicollin, pediu ajuda a bancos de investimento, afirmando: “Nossa queda precisa ser menos dolorosa no final do ano.”

Ao contrário do que ocorria antes da pandemia, o futebol francês agora tem dificuldades para atrair investidores, refletindo uma queda brusca nas receitas e um aumento no endividamento. A DNCG alertou para uma previsão de prejuízo de 1,2 bilhão de euros (R$ 7,7 bilhões) para os clubes das ligas 1 e 2 ao final da temporada. No ano passado, as perdas foram de 282 milhões de euros, mas só não foram maiores devido a vendas de atletas que somaram 830 milhões de euros, evidenciando a função formativa da liga.

— Aqueles que acham que manterão o equilíbrio financeiro vendendo mais de 800 milhões de euros em jogadores estão enganados. Na última janela de transferências, o número de vendas na Europa caiu 9%. Agora, os clubes recorrem a jogadores com menos de 19 anos, que são mais baratos e têm potencial de revenda — alertou Jean-Marc Mickeler, presidente da DNCG, ao jornal L’Équipe.

O colapso dos direitos de transmissão nacionais causou uma crise significativa nos clubes. Há 12 dias, os times da Ligue 1 votaram pela rescisão do contrato com o DAZN, que adquiriu a maioria dos direitos nas últimas temporadas. No entanto, a média britânica não aceitou a proposta, que incluía o pagamento de valores devidos e compensações.

O impasse começou quando o DAZN reteve metade da parcela de 70 milhões de euros, citando a falta de envolvimento da LFP no combate à pirataria. A empresa enfrenta dificuldades, com apenas 500 mil assinaturas, um terço do que seria necessário para viabilizar seu investimento.

Em meio à hegemonia do PSG, que conquistou 11 dos últimos 13 títulos, manter o interesse dos torcedores no campeonato tem sido desafiador. Para reverter isso, uma promoção do DAZN em parceria com o McDonald’s distribuiu assinaturas gratuitas até o fim da temporada para quem comprasse certos combos de lanches.

A dificuldade em atrair assinantes levou outra gigante do streaming, a Amazon, a não participar do edital atual, após detê-los entre 2021 e 2024. A empresa entrou em ação emergencial após a falência do Mediapro, que deixou os clubes sem parte relevante de suas receitas.

Mais que a pandemia, a falência do Mediapro foi o gatilho da crise. Os clubes perderam receitas significativas e ficaram mais endividados. Um acordo com o fundo CVC garante 1,5 bilhão de euros, em troca de 13% das receitas nos próximos 99 anos.

A gravidade da situação tem levado as autoridades do futebol a reavaliar diversos aspectos. Desde o modelo de exibição (a possibilidade de um serviço de transmissão próprio está sendo considerada) até os gastos. Em 2023, os clubes da Ligue 1 arrecadaram 1,841 bilhão de euros em salários, o maior percentual em relação às receitas (78%) dentre as cinco principais ligas.

— Temos o risco de ver clubes fecharem as portas até o final da temporada, ou até antes — alertou o presidente da Federação Francesa de Futebol, Philippe Diallo, em fevereiro.

Mariana Beltrão

Sou redatora, revisora e tradutora de textos, formada em Letras e em Filosofia, estou sempre em busca de conhecimentos. Atualmente escrevo para o portal Folha de Parnaíba, sempre buscando as últimas notícias para os leitores.

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