Com energia excedente, Piauí atrai gigante global de mineração de bitcoin


Data center da Enegix no Cazaquistão mineração de bitcoins
A Enegix opera na mineração de bitcoin no Cazaquistão com equipamentos distribuídos em contêineres com máquinas já instaladas, em formato plug-and-play. Foto: Enegix/Reprodução
Com informações do Piauí Negócios

A Enegix Global, um dos maiores grupos do mundo especializados em data centers voltados à mineração de bitcoin, estuda investir até US$ 120 milhões na instalação de uma unidade em Parnaíba, no litoral do Piauí. Um memorando de entendimento (MoU) já foi assinado com autoridades locais, e o projeto prevê alcançar até 100 megawatts (MW) de capacidade em um ciclo de maturação estimado entre quatro e seis anos.

A empresa, sediada no Cazaquistão, opera atualmente dois grandes data centers no país asiático: um conectado à rede elétrica nacional, com capacidade de 150 MW, e outro que funciona com gás natural, inicialmente com 40 MW e expansão prevista para 100 MW até o fim de 2025. A Enegix também adquiriu uma planta de processamento de gás para mineração off-grid com potencial de até 400 MW, baseada em gás flutuante — classificado como energia verde por seu reaproveitamento de resíduos da produção.

“Dadas as condições que o Brasil está criando do ponto de vista de geração de energia verde, existe uma possibilidade muito forte de instalarmos também agora aqui no Piauí”, afirmou Mário Palombini, sócio brasileiro da Enegix, ao site Piauí Negócios.

Segundo Palombini, o modelo de operação da empresa permite rápida implantação. Os equipamentos são distribuídos em contêineres com máquinas já instaladas, em formato plug-and-play, o que viabiliza o início das atividades com menor tempo de estruturação. A expectativa é que parte dos clientes da operação no Cazaquistão migre automaticamente para o novo centro no Brasil.

O memorando de entendimento foi assinado por representantes da empresa durante a Brazil Energy Conference 2025, em Teresina, com a presença do governador Rafael Fonteles e da Investe Piauí, empresa de atração de investimentos do estado.

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“O projeto não apenas posicionará o Piauí no mercado global de criptomoedas, mas também trará impactos econômicos significativos. A operação gerará impostos e receita para o estado, além de oportunidades em infraestrutura e construção civil”, destacou Daniel Martins, diretor-comercial em Mercados Europeus da Investe Piauí.

mineração de bitcoin
A mineração de bitcoin demanda grande número de equipamentos de computação e energia barata e sustentável. Foto: Enegix/Reprodução

Estrutura e energia como diferencial competitivo

A mineração de bitcoin envolve a validação de blocos de transações por meio de cálculos matemáticos realizados por máquinas especializadas. Trata-se de uma operação intensiva em energia, que exige fornecimento contínuo e estável. Por isso, regiões com oferta de energia excedente e baixo custo se tornaram atrativas para o setor.

No Brasil, essa condição se intensificou com o avanço das fontes renováveis. O país frequentemente gera mais energia do que consome, especialmente nas modalidades solar, eólica e hidrelétrica. Como não há capacidade eficiente de armazenamento, esse excedente acaba sendo desperdiçado. A mineração de bitcoin surge como uma alternativa para evitar esse desperdício, convertendo energia ociosa em receita fiscal, desenvolvimento local e atividade industrial de base tecnológica.

Estudo divulgado em fevereiro de 2024 pela startup Arthur Inc., em parceria com a Genial Investimentos, apontou que a mineração de bitcoin pode destravar energia que está ociosa na matriz elétrica brasileira. O levantamento identificou um cenário de sobreoferta de geração que tem paralisado novos projetos de fontes renováveis.

Segundo os cálculos, a mineração de bitcoin poderia gerar até R$ 300 milhões em receita já em 2026 ao monetizar energia ociosa, especialmente de usinas de geração distribuída solar — instalações de pequeno porte que escoam energia para a rede nos momentos de maior demanda, mas permanecem inativas em horários de menor consumo.

Os cálculos consideram um cenário conservador, baseado na projeção de crescimento de minigeradores solares no país com potência a partir de 500 kW, patamar mínimo para viabilizar operações de mineração.

“O Piauí apresenta características muito competitivas, especialmente em termos de energia renovável não aproveitada”, reforçou Gonçalo Fitas, integrante da Câmara Europeia de Apoio ao Investidor Estrangeiro (CEAIE). “A Enegix é um dos maiores players internacionais em data centers dedicados para mineração de bitcoin. É sediada no Cazaquistão, onde possui o maior data center de mineração do país e um dos maiores da Ásia.”

Incentivos fiscais impulsionam mineração de bitcoin

O cenário brasileiro também favorece essa expansão. Em maio de 2025, o governo federal zerou o imposto de importação sobre equipamentos de mineração de bitcoin para empresas, por meio da Resolução Gecex nº 726/2025. A medida, válida até dezembro deste ano, tem como objetivo atrair operações para estados do Nordeste com geração de energia renovável excedente e pouca demanda local.

Autoridades do setor energético defendem que a mineração pode manter ativa a cadeia de geração renovável, que já gerou milhares de empregos na região. Ao absorver o excedente, evita-se a ociosidade e viabiliza-se um novo modelo produtivo baseado na infraestrutura já instalada.

O custo da energia sempre foi um dos principais entraves à atividade no Brasil, mas a combinação entre excedente, incentivos fiscais e mercado livre está mudando esse cenário, com destaque para o potencial nordestino.

Experiência cearense e alerta sobre impactos ambientais

No Ceará, a Pacto Energia já atua com um modelo de mineração “verde”, utilizando excedente de pequenas centrais hidrelétricas. A experiência tem sido apontada como exemplo de reaproveitamento de infraestrutura energética ociosa, mas também levantou preocupações sobre o consumo intensivo de energia e os possíveis impactos ambientais indiretos.

Especialistas alertam que, mesmo com uso de fontes renováveis, a mineração pode competir com outras demandas e pressionar a rede elétrica em horários de pico. O acompanhamento regulatório é visto como essencial para garantir que a atividade não comprometa a sustentabilidade da matriz energética.

Leia mais: Com petróleo, indústria de PE muda perfil e lidera avanço regional



Fonte Original da Matéria

Mariana Beltrão

Sou redatora, revisora e tradutora de textos, formada em Letras e em Filosofia, estou sempre em busca de conhecimentos. Atualmente escrevo para o portal Folha de Parnaíba, sempre buscando as últimas notícias para os leitores.

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