Bruno Henrique fez empréstimo a irmão após casa de aposta bloquear pagamento
Em uma investigação da Polícia Federal (PF) sobre o presunto envolvimento de Bruno Henrique, jogador do Flamengo, em um esquema que beneficiaria apostadores, o atacante enviou um comprovante de transferência de dinheiro a seu irmão, Wander Nunes Pinto Júnior, que também foi indiciado no caso.
A conversa ocorreu entre os dias 9 e 10 de dezembro de 2023, onde Wander expressou sua frustração pela demora no recebimento dos valores referentes a uma aposta sobre o cartão amarelo que Bruno recebeu em um jogo contra o Santos, pelo Brasileirão de 2023, e pediu a Bruno Henrique um empréstimo de R$ 10 mil.
De acordo com a PF, Bruno teria informado seu irmão de maneira privilegiada sobre o cartão amarelo que ele forçaria durante o jogo contra o Santos.
Wander revelou que apostou cerca de R$ 3 mil esperando um retorno de R$ 12 mil, mas os valores não foram pagos devido à aposta estar em análise por suspeita de fraude.
No dia seguinte, Bruno Henrique enviou o comprovante da transferência e comentou: “Pegando (o) dinheiro você paga, hein”.
No mesmo dia, Wander solicitou mais R$ 4 mil, sendo R$ 3 mil para quitar seu cartão de crédito. O trecho que se segue destaca a conversa sobre sua situação financeira:
“Em 09/12/2023, mais de um mês após a partida investigada, Wander envia uma mensagem longa a Bruno, detalhando sua situação e pedindo R$ 4.000,00 para pagar a pensão e o cartão de crédito.”
‘BH (Bruno Henrique), acabei de chegar em casa. Por mais que você não acredite, estava na festa e não gastei nada. Achei que receberia um bom valor do FGTS, mas foi quase nada. Tive que comprar roupas para as crianças que não tinham para viajar. Mano, eu não queria te pedir. Passei a semana tentando descobrir como conseguir esse dinheiro e procurei empréstimos, mas não consegui nada. Você é minha única solução. Sei que você vai ficar bravo, mas você é a única pessoa a quem posso recorrer. Preciso de R$ 4 mil para pagar R$ 1 mil de pensão e os R$ 3 mil do meu cartão. Esse dinheiro vai me ajudar a viajar. Me dê essa força, mesmo que eu pague ou você desconte da casa. Mas você é minha única opção. Vou dormir aqui, depois você me atualiza. De coração, fiz o possível para resolver isso.’
Às 10:43h desse mesmo dia, Wander manda outra mensagem: ‘Bom dia, irmão. Lembra da situação que você comentou sobre o cartão tomado? Até agora eles (casa de apostas) não pagaram. Apostei R$ 3 mil para ganhar R$ 12 mil e eles bloquearam tudo por suspeita. Se você puder me ajudar, vai ser uma grande ajuda. Pode descontar R$ 10 mil da casa e me dar, que eu pago tudo e ainda sobra um pouco para ir à praia e financiar a casa. Assim que eu recuperar o dinheiro, te reembolso. Juro que não queria pedir isso a você, mas não tenho mais para quem recorrer. Me ajuda, por favor.’
O trecho ‘sabe a parada que você me deu ideia do Santos, até hoje eles não pagaram’, sugere que Bruno Henrique realmente teria informado a Wander antecipadamente sobre o cartão amarelo que deveria forçar para o jogo entre Flamengo e Santos, realizado em 01/11/2023.
Bruno responde: ‘Não entendi nada do que você disse, Juninho’.
Wander pergunta: ‘O que você não entendeu?’
Bruno responde: ‘Isso aqui’. E Wander diz: ‘No dia em que você me falou sobre o cartão, apostei R$ 3 mil para ganhar R$ 12 mil. Mas até hoje eles não pagaram, estão com a aposta em análise. Estou pensando. Me ajuda com R$ 10 mil para resolver minhas pendências até o dinheiro sair, pagar o cartão e a pensão que estão atrasadas. Eu não queria te pedir, mas não tenho outra saída. Se você puder me ajudar, me salva!’.
O diálogo mostra claramente que Bruno Henrique passou informações privilegiadas para Wander sobre o cartão amarelo que ele deveria receber na partida entre Flamengo e Santos, realizada em 01/11/2023, em Brasília, pelo Campeonato Brasileiro Série A.
No dia seguinte, sobre o pedido de empréstimo de Wander, Bruno disse: “Vou ver isso aí, Juninho.” Wander respondeu: ‘Bom dia, irmão. Apaguei ontem, estava com muito sono.’
Às 11:25h, Bruno Henrique enviou um comprovante bancário e escreveu: ‘Pegando o dinheiro, você me paga, hein?’ Neste caso, Bruno se referia ao dinheiro da aposta investigada que Wander ainda não havia recebido devido à suspeita de fraude. Wander respondeu: ‘Fechado, assim que eu receber, eu te mando.’
Contexto do Caso
A PF investigou 3.989 conversas no celular de Bruno Henrique, onde a maioria estava vazia ou apagada, sugerindo que o atleta pode ter deletado registros. No entanto, no celular de seu irmão, foram encontradas mensagens que indicam o suposto envolvimento de Bruno em um esquema para forçar o cartão contra o Santos.
Uma das conversas divulgadas pelo Metrópoles e obtida pela ESPN revelou um chat datado de 29 de agosto de 2023, meses antes do confronto no Brasileirão, que ocorreu em 1° de novembro e resultou em derrota do Flamengo por 2 a 1.
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Wander: “Você está com 2 cartões no brasileiro?”
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Bruno Henrique: “Sim.”
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Wander: “Quando o pessoal mandar tomar o 3, nos avise hein, kkkk.”
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Bruno Henrique: “Contra o Santos.”
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Wander: “Daqui quantas semanas?”
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Bruno Henrique: “Olha aí no Google.
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Wander: “29 de outubro; será que você aguenta ficar até lá sem cartão, kkkkk.”
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Bruno Henrique: “Se não entrar forte em alguém, não vou reclamar.”
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Wander: “Então já vou guardar o dinheiro, investimento certo.”
Bruno Henrique e Wander foram indiciados por fraude e estelionato, sendo a pena para a primeira de dois a seis anos de prisão, e para a segunda, de um a cinco anos de reclusão.
Entre os indiciados estão também Ludymilla Araújo Lima, esposa de Wander, e Poliana Ester Nunes Cardoso, prima do atleta, que também realizaram apostas.
A assessoria do jogador não quis comentar o caso, enquanto o Flamengo já se manifestou sobre o ocorrido.
“O Flamengo não foi oficialmente notificado por nenhuma autoridade pública sobre os fatos noticiados pela imprensa relacionados ao atleta Bruno Henrique. O Clube defende a aplicação das regras de fair play esportivo e, ao mesmo tempo, o princípio constitucional da presunção de inocência e do devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, fundamentos do estado democrático de direito.”