Até quando o futebol feminino brasileiro ocorrerá às cegas? | Iara Costa
Fortaleza e Mixto empataram em 1 a 1 pelo Brasileirão Feminino A2 em um jogo que não foi transmitido.
O que é o futebol sem torcedores ou espectadores? Embora o cerne do jogo estabeleça que a atenção esteja voltada para os atletas em campo e não para a plateia, a presença do público desempenha um papel crucial na dinâmica de uma partida. Afinal, todo confronto é criado para proporcionar entretenimento a alguém. Ou pelo menos deveria ser assim. Entretanto, essa não parece ser a perspectiva da CBF em relação ao futebol feminino, especialmente a poucos mais de dois anos da Copa do Mundo Feminina de 2027 que será realizada no Brasil.
A Série A2 do Campeonato Brasileiro Feminino começou no último fim de semana. O Fortaleza empatou com o Mixto fora de casa, o Santos saiu vitorioso, o Botafogo empatou com o Atlético-MG, e o Vasco também venceu. O Ação teve uma vitória expressiva contra o Paysandu, e o JC venceu o Remo em uma partida acirrada, terminando 4 a 3 a favor do time da casa.
Entretanto, alguns desses jogos, como o das Leoas, não foram transmitidos. Aqueles que foram exibidos contaram apenas com a transmissão dos clubes em seus próprios canais do YouTube, não havendo qualquer ação ou comprometimento da CBF em transmitir as partidas ou atrair mais torcedores para os estádios.
Em cenários como esse, para quem estão jogando essas equipes? O público geralmente só toma conhecimento dos jogos por meio de assessorias de imprensa. Os jornalistas ficam impedidos de executar suas funções básicas de análises e fiscalização de projetos. Como é possível avaliar o desempenho de um time em uma partida sem visibilidade?
Isso cria uma atmosfera preocupante. Jogos sem espectadores, sem cobertura ao vivo, se desenrolando apenas como um procedimento protocolar. Ninguém tem acesso às informações do que aconteceu em campo, exceto pelo boletim enviado horas após o fim do jogo. Como, em menos de dois anos, será possível atrair ao menos 20 mil pessoas para um estádio de futebol para assistir a essa modalidade? Essa questão parece extremamente complexa.
E essa dificuldade não se deve apenas aos números de público que o futebol feminino apresenta, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, onde clubes como Corinthians e Palmeiras dominam. O problema reside também na falta de incentivo para que o público em geral consuma um esporte que transcorre sem visibilidade.
Nem os clubes — que, apesar de transmitirem alguns jogos, fazem apenas o mínimo — nem a CBF, a principal responsável pela organização, estão colaborando para atrair esse público. Se a torcida não é levada, quem irá aos jogos? Parece que a CBF está simplesmente esperando por um milagre, já que não toma nenhuma iniciativa. Porém, mesmo para um milagre acontecer, é preciso que a entidade faça alguma coisa. No momento, parece que a CBF não está cumprindo seu papel.

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