As artimanhas criminais de um austríaco no Brasil


O austríaco naturalizado brasileiro Walter Werner Rydl, de 67 anos, mora em uma casa modesta, alugada por 450 reais mensais em Ponta do Mel, um vilarejo no litoral do Rio Grande do Norte. Ele não tem carro e leva uma vida espartana. Apesar disso, declarou à Receita Federal um patrimônio assombroso de 100 bilhões de reais. Caso fosse incluído na lista de bilionários divulgada anualmente pela revista Forbes, Rydl seria a terceira pessoa mais rica do Brasil, superada apenas por Eduardo Luiz Saverin, ex-sócio de Mark Zuckerberg na Meta, e por Vicky Sarfati Safra, herdeira da famosa família de banqueiros.

Sentado na recepção de uma pousada em Ponta do Mel, o austríaco contou à piauí que a maior parte de sua fortuna é constituída por um estoque de 306 toneladas de ouro – mais do que o dobro das reservas do Banco Central brasileiro. Quando perguntado onde guarda tanto ouro, ele diz que é em Seagarland, um país “sem povo” fundado por ele a 90 km da costa brasileira, em pleno Oceano Atlântico, com moeda própria – a Eternity. Rydl diz que o lugar é constituído por um barco flutuante, capaz de submergir, e por um grande depósito de cápsulas com todo o ouro, enterradas no fundo do mar.

A história é mirabolante, mas está longe de ser inofensiva. Para a Receita Federal e a Polícia Federal, Rydl é um astuto golpista. Ele descobriu um meio de usar o próprio fisco para criar uma gigantesca lavanderia do crime, que serve tanto para legalizar a origem de toneladas de ouro extraídas ilegalmente da Amazônia quanto para esquentar dinheiro do tráfico internacional de cocaína.

Ao analisar as declarações do imposto de renda de Rydl, a unidade da Receita Federal em Belém constatou que, até 2006, ele não informava a posse de nenhum grama de ouro. Apenas no ano seguinte declarou 823 kg, cujo valor estava em torno de 40 milhões de reais. A partir de então, ele passou a acrescentar quantidades superlativas de ouro nas suas declarações de renda.

Na época, Rydl estava preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, aguardando extradição por crimes cometidos na Áustria. Para a PF, isso reforça a suspeita de que foi na prisão que Rydl aprendeu a declarar qualquer quantia de ouro sem pagar um centavo de imposto, uma vez que a Receita só tributa renda ou ganho de capital – enquanto o ouro é um bem imobilizado, como um imóvel, e não gera imposto de renda.

Entre 2018 e 2022, Rydl movimentou 343 milhões de reais em suas contas bancárias, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). São saques de dinheiro em espécie, além de transações milionárias com chineses radicados em São Paulo, possivelmente doleiros. A movimentação bancária chama a atenção pelo alto volume de transações com supermercados e empresas que vendem produtos alimentícios em Boa Vista. Segundo a PF, é um indício de que Rydl os adquiriu na capital de Roraima para levá-los à vizinha Venezuela, onde esses produtos, escassos devido aos embargos contra a ditadura de Nicolás Maduro, eram trocados por ouro. O metal, por sua vez, entrou ilegalmente no Brasil e foi exportado como se fosse de origem brasileira.

No mesmo período, Rydl transferiu 19,4 milhões de reais para a empresa Ricca Comércio Ltda., cujo proprietário é o venezuelano Roberto Espejo Camacho, líder de um esquema que contrabandeou ao menos 1,2 tonelada de ouro venezuelano para o Brasil, trocando o mineral por alimentos. Rydl admite ser próximo de Camacho, que foi preso pela PF em Boa Vista em 2019 e, no ano passado, extraditado para a República Dominicana, onde é acusado de lavar dinheiro do narcotráfico.

Assinantes da revista podem ler a história completa de Rydl neste link.





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Mariana Beltrão

Sou redatora, revisora e tradutora de textos, formada em Letras e em Filosofia, estou sempre em busca de conhecimentos. Atualmente escrevo para o portal Folha de Parnaíba, sempre buscando as últimas notícias para os leitores.

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