A caatingueira de Jaú – revista piauí
Numa manhã de outubro de 2013, a arqueóloga paulista Niéde Guidon foi visitar a Toca do Gongo III, um dos mais de 1,2 mil sítios arqueológicos no Parque Nacional Serra da Capivara, no Sul do Piauí, criado por sua iniciativa. A cientista continuava em atividade aos 80 anos, embora não coordenasse mais as pesquisas desde o fim do século passado. Na visita daquela manhã, ela examinaria o sítio para definir detalhes sobre a retomada de sua escavação. A própria arqueóloga dirigiu uma caminhonete no trajeto entre a sua casa, em São Raimundo Nonato, e o sítio. Eu estava a bordo, ao lado de duas alunas de arqueologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).[1]
Como muitos sítios da região, a Toca do Gongo III fica na base de um paredão rochoso com pinturas rupestres. Enquanto guiava a caminhonete a até 130 km/h, Guidon – morta no último dia 4 de junho, aos 92 anos – explicou que doze sepultamentos humanos já haviam sido descobertos por lá. Aquele foi o primeiro sítio da Serra da Capivara em que ela encontrou fósseis humanos, um evento relativamente raro na área, porque o solo ácido e o clima quente não favorecem a preservação do material orgânico. Guidon estava habituada a escavar vestígios indiretos da passagem humana pela região, como ferramentas de pedra ou restos de fogueira. “Mas encontrar remanescentes dos próprios indivíduos é uma experiência fantástica, diferente de todas as outras que já tive”, disse.
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