Nana Adnet | “Unstoppable”: Uefa traça rota de crescimento
Embora o investimento seja significativo, é crucial abordar os desafios para diminuir as disparidades entre o futebol feminino e masculino.
A Uefa (União das Associações Europeias de Futebol) já delineou planos para o futebol feminino até 2025, tendo anunciado no início de novembro o projeto “Unstoppable”, que inclui um investimento de €1 bilhão (cerca de R$ 6,4 bilhões).
O presidente da Uefa, Aleksander Čeferin, enfatizou que o objetivo da entidade é “ajudar o futebol feminino a conquistar um lugar de destaque na Comunidade Desportiva Europeia”. O projeto foca, em grande parte, no desenvolvimento das categorias de base, visando formar mais atletas. Durante o anúncio do investimento, Čeferin descreveu a missão como “simples”.
No entanto, é evidente que um projeto tão vital para o futebol não pode, ou ao menos não deveria, ser simplificado dessa maneira, pois na realidade a situação é bem diferente.
A disparidade entre as categorias feminina e masculina ainda é alarmante.
Apesar de diversas iniciativas bem-intencionadas para equalizar essa diferença, é preciso admitir que os investimentos não chegarão como uma solução mágica. Não é “simples” compreender que, em um continente onde jogam os melhores atletas do ano segundo a revista francesa France Football, Rodri e Aitana Bonmati, existe uma diferença salarial que é incomparável a outras áreas de trabalho.
A jogadora de Garraf, na Catalunha, recebe €1 milhão por ano do Barcelona FC, enquanto o seu compatriota nascido em Madri ganha £11,4 milhões anualmente do Manchester City.
Embora um investimento bilionário seja um avanço significativo, é insuficiente quando considerada a totalidade deste dispendioso caminho rumo à igualdade.
É como se, mesmo com todos os esforços, o futebol feminino estivesse correndo em uma esteira; a modalidade se esforça, se cansa, mas não progride. O espaço do futebol masculino continua distante. A luta permanecerá desigual enquanto as ações direcionadas para a igualdade continuarem desproporcionais.
Portanto, é prioritário melhorar as infraestruturas de treinamento e aumentar os salários das jogadoras para que o futebol feminino seja não apenas amador, mas sim um esporte profissionalizado em todas as suas dimensões. Isso também contribuirá para reduzir a diferença entre as ligas de ponta e os clubes menores, que frequentemente enfrentam dificuldades para competir com as equipes de elite devido à escassez de recursos financeiros. A marginalização do esporte feminino, muitas vezes visto como um “subproduto” do futebol masculino, requer uma mudança na percepção pública.
Infelizmente, não é raro que patrocinadores dos clubes brasileiros tratem o espaço nas camisetas das equipes femininas como um “brinde” de visibilidade, sem investir um centavo a mais no contrato.
No entanto, há um aspecto encorajador no investimento da Uefa no futebol feminino que transcende a Europa. As ligas europeias são frequentemente consideradas um modelo a ser seguido globalmente, inclusive no Brasil, tornando o valor deste projeto ainda mais impactante. Isso pode gerar um efeito cascata em outras partes do mundo.
O avanço do profissionalismo na Europa poderá servir como uma fonte de inspiração.
No Brasil, um dos principais obstáculos para o futebol feminino é a escassez de investimentos significativos, especialmente em comparação ao futebol masculino. O modelo de investimento da Uefa pode servir como referência para as federações e clubes brasileiros, incentivando a formação de ligas mais competitivas. A aproximação dos padrões europeus pode se tornar um passo essencial para o futebol feminino brasileiro, que possui um grande potencial de crescimento, mas ainda carece de suporte financeiro e estrutural.
Os investimentos no futebol feminino no Brasil têm avançado lentamente, mas desde 2021 vêm aumentando, especialmente com o apoio da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Com o Brasil se preparando para sediar a próxima Copa do Mundo Feminina, há uma oportunidade de se inspirar nas iniciativas europeias para se consolidar como um exemplo internacional.