Rodrigo Oliveira / Agência RBS
Oren Lefkowitz, um consultor de marketing de 33 anos, é um norte-americano incomum. Apesar de não ter raízes latino-americanas, ele é um grande fã do futebol.
Oren fez uma viagem de 155 quilômetros desde Baltimore até Filadélfia para assistir à derrota do Chelsea, seu time, por 3 a 1 contra o Flamengo.
“Não gosto de basquete, beisebol ou futebol americano. Sou fã mesmo é do soccer. Assisto semanalmente aos jogos da Premier League. Por isso, não poderia deixar de torcer pelo meu Chelsea”, contou Oren à Zero Hora antes da partida.
Encontrar um americano como ele é tão raro que o repórter decidiu entrevistá-lo para entender o desinteresse em relação ao Mundial de Clubes e as expectativas para a Copa do Mundo de 2026.
Nas proximidades do Lincoln Field, Oren afirmou que o futebol está crescendo nos Estados Unidos, principalmente após a chegada de Lionel Messi ao Inter Miami. Ele acredita que o povo americano irá “abraçar” a Copa do Mundo no próximo ano e destacou vários fatores que contribuem para a baixa atenção no Mundial de Clubes.
Entre essas razões estão a cultura local, a falta de promoção na mídia, os horários dos jogos e até mesmo o medo de fiscalização sobre imigrantes, intensificada durante o mandato do presidente Donald Trump.
Antes do início do Mundial de Clubes, surgiram rumores sobre a presença de oficiais da ICE, o Serviço de Imigração e Fiscalização Alfandegária, nos estádios durante o evento, em busca de imigrantes sem documentos.
Confira a entrevista com o torcedor norte-americano
Você vê oportunidades de crescimento do futebol nos Estados Unidos?
O futebol está definitivamente em ascensão. A chegada de estrelas como Messi aumentou muito o interesse. Hoje, há muito mais fãs de futebol do que há uma década.
E por que, então, o povo local demonstra tanto desinteresse no Mundial de Clubes?
A falta de entusiasmo se deve ao fato de ser um torneio relativamente novo. A maioria das pessoas realmente não está familiarizada com a competição. Não é nosso esporte principal. Se fosse a Copa do Mundo de Futebol Americano, talvez houvesse mais interesse.
Com as repressões migratórias do governo, até cidadãos legais estão receosos.
OREN LEFKOWITZ
Referindo-se a um dos motivos para a baixa participação nos jogos.
Além disso, os jogos ocorrem no meio do dia durante a semana. Meus amigos queriam vir, mas estão trabalhando. Eu tenho meu próprio negócio, então posso me ausentar quando quiser, mas nem todos têm essa liberdade. Além disso, os protestos e a agitação política na última semana deixaram algumas pessoas apreensivas.
Qual a conexão entre esses protestos e a falta de interesse no Mundial?
Muitos torcedores de futebol aqui têm origem hispânica, e com as ações do governo, até cidadãos legais temem por sua segurança. Mesmo sabendo que não estão fazendo nada de errado, preferem evitar problemas. Entendo completamente; a situação política é complicada e afeta a todos, mesmo os que não são alvos diretos. Espero que as coisas melhorem.
Você se refere ao medo da presença de agentes da ICE nos estádios?
Sim, esse medo afeta algumas pessoas. Contudo, acho sinceramente que a principal razão pela qual os jogos não estão cheios é que as pessoas simplesmente não conhecem o torneio.
Estou confiante de que, no próximo ano, os estádios estarão cheios e todos os ingressos serão vendidos.
OREN LEFKOWITZ
Sobre suas expectativas para a Copa do Mundo de 2026.
Você acredita que a população abraçará mais a competição na Copa do Mundo?
Certamente. Os americanos sempre se unem durante a Copa do Mundo. Tenho plena certeza de que, no próximo ano, os estádios estarão lotados e todos os ingressos vendidos. O povo americano acolherá o torneio. Prometo isso. As pessoas se conectam mais com a seleção nacional do que com os clubes. Temos uma seleção forte, provavelmente a melhor da nossa história, com jogadores como Antonee Robinson e Christian Pulisic se destacando nas ligas europeias. Temos um time jovem e promissor, com um ótimo treinador como Mauricio Pochettino. O futuro é brilhante e estamos muito animados.