Como, em quatro meses, Casemiro foi da maior crise individual da carreira ao retorno triunfal à seleção brasileira
Não faz muito tempo, em 7 de fevereiro, Casemiro assistiu ao jogo do Manchester United contra o Leicester, pela Copa da Inglaterra, do banco. Quando finalmente entrou em campo, a partida se encerrou no minuto seguinte. Nos oito jogos anteriores, em sete, ele foi apenas um reserva não utilizado — algo inédito na sua carreira. Corta para hoje: com a titularidade recuperada, Casemiro é visto como um dos principais destaques da temporada final do clube e retornou à seleção brasileira após um ano e meio fora. Mais do que isso, ele se tornou homem de confiança de Carlo Ancelotti, atuando como seu braço direito no elenco.
— Sem dúvida, este é um dos anos mais importantes da minha carreira, se não o mais importante — reflete o jogador, mesmo após várias temporadas vitoriosas no Real Madrid. — Todos falam de títulos, vitórias e grandes jogos. Mas, quando você não joga, é desafiador mudar a visão de um técnico que não o escalava, e receber elogios dele faz com que este ano seja um dos que mais exigiu resiliência da minha parte. É um dos anos mais felizes e vitoriosos da minha trajetória.
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O técnico mencionado por ele é Ruben Amorim, que assumiu o United no final de 2024. De fato, a fase de Casemiro já não era boa sob o comando do anterior treinador, Erik Ten Hag, o que resultou em sua exclusão das convocações de Dorival Junior. Sua situação piorou com a chegada do português, que insinuou em uma entrevista que não via compatibilidade entre suas ideias e as características de Casemiro.
A melhora do brasileiro levou tempo. Dentro de campo, Amorim enfrentou várias lesões que o levaram a considerar Casemiro como opção. Fora dele, ambos alinharam expectativas e evitaram mal-entendidos.
— Fui conversar com o treinador. Ele foi muito honesto e disse que não era uma questão pessoal, mas uma decisão dele. Eu precisava continuar trabalhando e esperar a oportunidade para aproveitá-la. Esperei, e quando joguei, correspondi ao que ele pediu — contou Casemiro, que acredita ter sofrido os efeitos de uma crise coletiva. — Não acho que meu rendimento individual tenha caído tanto, mas é preciso mudanças quando a equipe não desempenha bem.
Nos primeiros 20 jogos de Amorim no United, Casemiro participou de apenas oito (quatro como titular), mas ao final da temporada, sua situação mudou. O jogador apareceu em 18 das 22 partidas seguintes, tendo sido titular em 15, além de marcar dois gols e registrar duas assistências — uma boa performance para um atleta com função defensiva.
Na seleção, não houve tempo para uma conversa como essa, uma vez que Dorival Junior foi demitido em março. Casemiro evita falar mal dele; afinal, os tempos são diferentes. O jogador não esconde sua felicidade ao ver Ancelotti, com quem mais se identifica na carreira, assumir a seleção.
A afinidade entre os dois é notável; enquanto ainda negociava com a CBF, Ancelotti consultou Casemiro para se manter informado sobre a seleção brasileira. Durante os treinos, é comum vê-los conversando. Embora não tenha recebido a braçadeira de capitão (que ficou com Marquinhos), Casemiro é o principal elo de Ancelotti com o restante do time.
— Tive a sorte de trabalhar com ele na sua primeira e segunda passagem pelo Real Madrid. Um dos pontos fortes de Ancelotti é seu lado humano. A relação que ele constrói com os jogadores, sua proximidade e facilidade de interação são excepcionais. Aqui não é diferente; ele é uma grande pessoa, muito humilde, apesar do currículo que possui — elogiou Casemiro.
Essa proximidade permite até que Casemiro revele que o treinador passou pelo trote da seleção, uma tradição onde os novatos devem cantar uma música para o grupo. Treinadores normalmente não participam, mas Ancelotti se ofereceu durante sua apresentação.
— Ele canta mal demais — brincou o volante.
A música escolhida por Ancelotti foi “Il migliori anni della nostra vita” (“Os melhores anos das nossas vidas”), do cantor italiano Renato Zero. Um título que combina bem tanto com a seleção quanto com Casemiro.