Copa do Mundo das Crianças de Rua revela poder de inclusão do futebol
No dia 25 de maio, o mundo celebrará, pela primeira vez, o Dia Mundial do Futebol.
Essa data foi instituída pela Assembleia Geral da ONU, no ano passado, em reconhecimento à importância do esporte na promoção da paz e inclusão social.
“O futebol é uma língua que todos compreendem”, afirma Julia Pimenta, da Street Child United.
Um esporte que une
Para aproveitar o potencial do futebol, a organização Street Child United criou a Copa do Mundo das Crianças de Rua. O torneio reúne jovens em situação de vulnerabilidade para jogar na mesma cidade ou continente onde ocorre a Copa do Mundo oficial.
Em entrevista à ONU News, Julia Pimenta, diretora de impacto da organização, ressaltou que o futebol elimina barreiras entre povos e diferentes classes sociais, facilitando o diálogo sobre os direitos das crianças.
“O futebol é como uma linguagem universal. Facilita a aproximação de líderes quando organizamos eventos em que eles assistem a partidas e, em seguida, discutimos direitos das crianças. É fácil engajar as crianças, pois ao visitar projetos sociais, eu sempre começo jogando futebol. Isso nivela a relação. Todos se veem como iguais, não há estranhos; somos apenas pessoas jogando juntas. O futebol tem esse poder, seja jogando, assistindo ou torcendo por um time”, afirma.
Heróis e heroínas locais
A Street Child United opera com base na Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança. Os jovens atletas participam de oficinas informativas e, ao final da competição, escrevem mensagens para os governos sobre as dificuldades que enfrentam vivendo nas ruas.
Julia Pimenta compartilha que as crianças vivenciam um clima festivo e formam amizades, superando diferenças linguísticas. Elas se sentem valorizadas ao representar seus países no torneio.
“Chamamos isso de a Copa do Mundo que realmente importa. Muitas dessas crianças nunca deixaram sua cidade, nunca voaram de avião ou saíram de seu país. Nós as tratamos com o respeito que merecem. Durante nosso evento, elas são nossos atletas; elas se tornam verdadeiros heróis e heroínas nacionais”, explica.
Luta contra a invisibilidade
A diretora menciona que a organização, criada em 2010 após a Copa do Mundo na África do Sul, visa ser uma plataforma para dar voz às crianças em situação de vulnerabilidade.
Os quatro pilares de atuação incluem garantir registro de nascimento, proteção contra a violência, acesso à educação e promoção da igualdade de gênero.
Julia Pimenta destaca que muitas crianças em situação de rua não têm certidão de nascimento, o que as torna ainda mais invisíveis. A Street Child United lançou uma campanha para registrar um milhão de crianças até a Copa do Mundo de 2026, que ocorrerá nos Estados Unidos.
“Ter um registro é um passo para deixar de ser invisível. Com isso, seu governo realiza censos, e você passa a ser contado. Isso traz um impacto emocional e psicológico significativo para a criança, que percebe que ela existe”, afirma.

A Copa do Mundo das Crianças de Rua foi criada pela Street Child United
Compromisso com a igualdade de gênero
A especialista enfatiza que vários estudos da ONU indicam que a probabilidade de meninas abandonarem o esporte aos 14 anos é até seis vezes maior do que a dos meninos.
As razões para essa desistência vão desde questões fisiológicas durante a puberdade até problemas de segurança.
Julia Pimenta anunciou que a próxima grande campanha do Street Child United se concentrará na igualdade de gênero, um tema que será enfatizado na Copa do Mundo de 2026, que ocorrerá nos Estados Unidos, Canadá e México, além da competição feminina em 2027.
Para as Nações Unidas, o Dia Mundial do Futebol também contribui para avançar a igualdade de gênero e empoderar mulheres tanto dentro quanto fora de campo.
A Assembleia Geral da ONU antecipou a celebração da data na última quinta-feira, coorganizada pelas Missões do Bahrein, Líbia e Tadjiquistão.