Várias hipóteses podem ser consideradas para explicar a crise persistente da seleção brasileira de futebol, especialmente agora que um renomado treinador europeu foi contratado para a Copa do Mundo.
Podemos abordar as novas realidades que emergiram no Brasil e no mundo nas últimas décadas, examinar como a Europa se solidificou como o centro da geopolítica do futebol, discutir as defasagens táticas, profissionais e financeiras que surgiram, e reconhecer o fim de um ciclo histórico que elevou o futebol-arte como um símbolo de nossa identidade nacional.
Apesar dessas mudanças, não se pode afirmar que seja um destino irrevogável do ponto de vista esportivo. O Brasil ainda pode conquistar Copas e manter-se como o país com mais títulos por um bom tempo. Contudo, os triunfos inéditos de seleções como a Espanha e a França nos mostram que algo está mudando.
Nessa conjuntura desafiadora, seria esperado que os dirigentes do futebol brasileiro se dedicassem a melhorar sua organização e gestão – ou ao menos confrontassem os aspectos mais evidentes de atraso no esporte nacional.
Questões básicas, como o calendário e a qualidade dos gramados, continuam sem solução, em meio à ineficácia da CBF e da maioria dos dirigentes de federações e clubes, que nem sequer conseguiram criar uma liga nacional.
A CBF, sob a gestão desastrosa de Ednaldo Rodrigues, tem registrado casos alarmantes de corrupção e comportamentos antiéticos. É verdade que a entidade nunca foi um modelo de integridade, mas o que acontece agora – com Samir Xaud se tornando o único candidato à presidência, graças a uma regulamentação questionável – vai além do razoável.
É preocupante notar que o nome de Gilmar Mendes, ministro do STF, esteja associado a essas irregularidades. Sua empresa, o IDP, firmou um contrato milionário com a “CBF Academy”, o braço educativo da entidade, durante a gestão de Ednaldo, que foi afastado em meio a controvérsias, uma das quais motivada por uma decisão liminar de Gilmar. O fato de o ministro não se considerar em conflito de interesses apenas intensifica o escândalo envolvendo a instituição.
Isso lembra um país fictício mencionado por Conrado Hübner Mendes, onde um juiz da corte suprema também é empresário, misturando interesses pessoais e judiciais sem reconhecer conflitos. “Empresário do agro, da educação, organizador de encontros da elite concentrada. Não vê problemas quando julga casos que beneficiam sua banca ou empresa.”
Para nós, brasileiros, apaixonados pelo futebol e preocupados com a ética, resta a indignação frente a esses acontecimentos e a esperança de que, de alguma forma, o futebol nos traga redenção, ainda que ilusória, disso tudo.